A poluição dos meios urbanos está a tornar os pólenes mais agressivos, uma das principais razões por que a população das cidades sofre cada vez mais cedo e com mais intensidade os sintomas das alergias na chegada da primavera.
Segundo o presidente da Sociedade Portuguesa de Alergologia (SPA), Mário Morais de Almeida, «em cada década as alergias aumentam de 10 a 20 por cento», sendo que além de serem cada vez mais frequentes são cada vez mais graves por causa da pressão do ambiente.
Actualmente quase um milhão de portugueses sofre de asma e dois milhões de rinite alérgica, especificou o especialista só para citar dois dos tipos de alergia mais frequentes, embora tenha referido outras como a alergia aos ácaros ou as peles atópicas.
«As alterações climáticas fazem com que as plantas cada vez polinizem mais cedo. Estamos a fazer essa medição há muitos anos e verificamos que nos últimos anos a concentração dos pólenes é elevadíssima», afirmou o presidente da SPA.
Isto explica o aparecimento de cada vez mais crianças com alergias e, pensando apenas na dos pólenes, cada vez mais cedo, em idade pré-escolar, com dois ou três anos, acrescentou.
Mas Mário Morais de Almeida sublinha que o problema não é só as alergias surgirem cada vez mais cedo, mas também com muito mais gravidade.
E se factores como o tipo de vida ou de alimentação têm algum peso, a «genética modulada pelo ambiente é determinante».
O peso que tem o pólen em conjunção com as alterações climáticas é cada vez mais grave, explicou, acrescentando que nas cidades existe na atmosfera uma mistura de pólenes com grande concentração de poluentes.
«Ao interagir com a poluição automóvel, os pólenes tornam-se mais agressivos. O mesmo pólen em meio urbano é mais agressivo porque se altera o seu formato e o seu nível de agressão», especificou.
Na primavera é quando os sintomas são mais sentidos porque é quando as plantas mais polinizam, contribuindo para este efeito nefasto nos mais sensíveis, principalmente, plantas como os fenos ou erva parietária e árvores como a oliveira.
Os sintomas são variáveis, mas numa percentagem elevada surgem espirros, comichão e pingo no nariz, obstrução nasal, lacrimejo e olhos vermelhos, por vezes tosse, falta de ar, aperto no peito, pieira, mas também comichões e descamação da pele e extremo cansaço.
O mais grave é que estes não são sintomas passageiros e os efeitos da polinização sentem-se por norma entre Março e Julho, disse o médico.
Esta é, aliás, uma das razões por que as alergias surgem fortemente associadas a estados de depressão e ansiedade, «mistura»potenciada na primavera, por ser a estação do ano mais propícia a potenciar os dois estados clínicos.
«Existe uma forte relação do sistema neuro-imuno-endócrino», afirmou, explicando que quem tem distúrbios neurológicos pode ter alergias na primavera por estar com o sistema imunitário debilitado, assim como a alteração do humor faz parte do quadro de alergia.
No entanto, o médico sublinha a importância de procurar ajuda, porque as alergias são hoje facilmente diagnosticadas e tratadas, embora ainda sejam desvalorizadas, em grande parte pela própria comunidade médica.
«O que é perigoso é deixar a alergia controlar a vida da pessoa e não a pessoa controlar a doença alérgica».
Lusa/SOL
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